NOITE BOÊMIA

À noite, dizem que todos os gatos são pardos. Eu não acho. Ainda mais porque…
Era uma terça-feira daquelas de empurrar uma cerveja gelada na goela para descansar o bode em uma calçada qualquer, sem esquentar a cabeça com nada.
Dia bobo essa terça-feira.
Ninguém dormia por causa do calor, ninguém saía com medo de assalto. Eu estava em cima do muro, esperando a vida (coisa de poeta).
– É uma droga mesmo essa vida! – gritei.
Ninguém segura a barra de ninguém no bairro.
Eu estou até o pescoço, não dá mais pra aguentar a frieza da Monalisa. A Mona não se acerta. Outro dia eu falei: – Se você não melhorar comigo, não me der mais atenção, vou terminar tudo. Mas que nada. Nada feito.
Eu estava nessa de descansar, de acertar comigo mesmo, quando desceu a rua o Pedrão e o Valmir.
– Ô cara, numa nice aí? – disse o Pedrão.
– Tô numa pior, contei.
– Nóis vamo queimá o pango, tá a fim? – falou o Valmir.
– Tô noutra cara! Não ligo nessa não, morô?
– Saquei. Vamo Pedrão, entendeu ele.
– Falô meu irmão. Até mais, disse o Pedrão.
Meia hora depois a polícia “encanava” o Pedrão mais o Valmir.
Eu continuava pensando na Mona.
– Não tô nessa não.
É, foi melhor. Problema a gente tem, mas com os home não quero não.
Acho que vou terminar com a Mona.

NA: Com esta crônica ganhei um fim de semana em um hotel de São Roque há muitos anos. O texto traz palavras e gírias de uma época bem distante, que talvez muitos nem conheçam.

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