Quem nunca ficou admirado com alguém que fala bem?
Esse é o meu filho, dizia meu pai, orgulhando-se quando eu fazia uma explanação sobre alguma coisa.
E eu não fazia nada de especial: apenas falava o que sentia.
Na verdade, o especial eram todos os livros que eu lia (sempre fui um leitor voraz) e era a prática constante da escrita (escrevo desde sempre), pois tudo isto me permitia conhecer o que falava.
Mas não eram só: fundamentalmente, eu tinha coragem.
Muita gente, desde muito cedo, perde essa força por cair em uma armadilha do cérebro, que é o conforto.
Quando alguém é chamado para falar em público, logo tenta se esquivar para não ter de enfrentar os outros.
Se isto é alcançado, essa fuga faz com que o cérebro dessa pessoa armazene aquela situação como uma recompensa.
Escapei de ter de falar em público, ufa.
Se um colega apresenta o trabalho na escola, se o chefe fala por todos no trabalho, se alguém paga o mico em reuniões sociais, enfim, em quaisquer situações, o sentimento de ter escapado provoca um alívio no cidadão e o cérebro guarda.
Fatalmente, essa pessoa vai cada vez menos falar em público e a sua comunicação pessoal vai definhando também.
Ela passa a ser uma pessoa que depende dos outros ou de outros meios para se expressar e para comunicar o que quer.
Daí a profusão de mensagens em vez de ligações. A rede social em vez da presença física. A solidão em vez do convívio.
Tenho uma amiga que vive só com o seu cachorro e há dias em que tudo o que ela fala é: “Vem comer”, “Vai deitar”.
Quando falo com ela, percebo a dificuldade que tem para se expressar, pois não lembra sequer das palavras.
A comunicação é uma das principais qualidades para o ser humano, afinal quem não consegue se expressar perde terreno.
E não falo aqui de timidez, mas desses gatilhos criados.
Se não tomarmos as rédeas da situação e enfrentarmos os nossos demônios -e isto vale para tudo-, vamos ser engolidos por eles.
Não se esquive nunca.
Tenha coragem para ficar e se estabelecer.
Quem tem medo, foge e desaparece.